As eleições de 2012 poderão ser as primeiras na Paraíba a serem marcadas pela influência da internet e das redes sociais. Diante da evolução dos espaços online, a maioria dos políticos do Estado já aderiu ao uso dessas ferramentas.
Estar presente nas redes, no entanto, não é garantia de sucesso no processo eleitoral, como pontuou o especialista em Marketing online, Marcelo D'Elia Branco, que coordenou a campanha da presidenta Dilma Rousseff nas redes sociais. De acordo com ele, é preciso conhecimento e ajuda profissional para evitar que as redes acabem jogando contra o candidato.Em visita a João Pessoa para participar do seminário de marketing político "Largada pra Vitória", que acontece hoje no Hotel Tambaú, Marcelo ressaltou a necessidade de se investir na internet durante o processo eleitoral. "O político que utilizar a internet bem vai se destacar. É necessário que qualquer candidato pense em sua estratégia e dê peso importante ao tema no próprio espaço dos recursos financeiros", destacou
De acordo com o especialista, a campanha pela internet é mais barata, mas exige a orientação de profissionais qualificados. "As eleições estão exigindo cada vez mais profissionalismo. Os políticos precisam ter equipe e postura apoiada por profissionais especializados", aconselhou. Sem esse acompanhamento, os candidatos podem acabar caindo em deslizes que prejudiquem a sua imagem. "Podem falar coisas que coloque o eleitorado contra si. Postar algo que cause indignação em sua base e que pode se voltar contra ele", frisou.
Questionado sobre como essas redes tem sido usadas pelos políticos, o estudioso afirmou haver muito empenho, mas sem o acompanhamento necessário. "Ainda é uma experimentação, a maioria tem usado de forma neutra. Muitos utilizam bem, poucos utilizam muito mal e os demais estão experimentando. Boa parte deles, no entanto, não possui uma equipe especializada de assessoria", avaliou.
Temas para repercussão
De acordo com Marcelo, o maior segredo do uso destas redes é não se deixar pautar pela campanha do seu adversário. É preciso tentar propor os temas que os demais veículos devem repercutir, pautando o próprio processo eleitoral. "A internet é isso: tempo real, instantaneidade. Pode não ter a qualidade do conteúdo do jornal, mas tem o fator tempo. Na campanha de Dilma transmitimos muita coisa ao vivo, da reunião em sala fechada ao grande comício. Mas tudo isso precisa ser organizado da maneira exata e de acordo com a estratégia", completou.
A nível Nacional, as redes sociais já exerceram grande influência no processo eleitoral, como foi o caso do certame presidencial, em 2010. "Naquela oportunidade houve um uso intenso da internet na mobilização. Em 2010 ela teve um peso importante e esse ano deve se aprofundar", previu Marcelo. De acordo com ele, o espaço oferece a oportunidade de mobilizar eleitores "dentro e fora da rede e construir debate com adversários e determinando o que vai ser discutido nas ruas".
Para Marcelo D'Elia, a internet é um espaço que não aceita o meio termo, sendo necessária a entrega completa do usuário sem medo de se expor. "Ou você está dentro e se expondo ou você está fora. E estar fora, hoje, significa descartar uma ferramenta muito importante", avaliou. O meio se diferencia, por exemplo, da TV e do rádio, por não dar espaços para bastidores. "Na comunicação de massa o eleitor tem acesso ao candidato como resultado final de uma construção. Na internet a estratégia é aberta", descreveu.
Possibilidade de evitar a boataria
Responsável pela coordenação da campanha online da presidenta Dilma Rousseff em 2010, Marcelo D'Elia Branco destacou a importância que as redes tiveram em mobilizar a campanha de rua petista. "A conectividade foi essencial na divulgação de manifestações de rua e até mesmo na produção de argumentos que os militantes deveriam utilizar no debate corpo a corpo pelas ruas", explicou.
Outro fator importante propiciado pelo bom uso das redes é a possibilidade de evitar boatos, apesar do grande número de calúnias que são propagadas. "Em uma campanha bem organizada o eleitor vai ter a informação verdadeira em primeira mão. O militante tem a sua resposta para uma inverdade imediatamente", destacou. Na campanha de Dilma, o principal exemplo disso foi a revelação do que seria uma simulação de ataque orquestrada pela equipe do tucano José Serra, como considerou Marcelo.
"Era um momento de instabilidade para Dilma, que não esperava um segundo turno. A equipe de Serra montou essa ideia e isso poderia ter mudado os rumos da eleição", lembrou Marcelo. Ele se refere ao episódio em que o tucano teria sido atingido por uma bolinha de papel, e acabou anunciando um atentado da militância petista. "Milhões de eleitores se manifestaram no Twitter, analisaram votos e vídeos e comprovaram que não houve ataque, conseguiram fazer uma verdadeira perícia", brincou. "Em uma época sem internet, como no caso do famoso debate editado, entre Collor e Lula, onde se montou uma versão, a verdade da situação acaba não sendo restabelecida", analisou.
Avaliando o trabalho executado na campanha, Marcelo apontou que o destaque dado pela candidata às redes foi decisivo para o sucesso na sua utilização. "A presidenta quis apostar na ferramenta, disponibilizou recursos para o trabalho. O presidente Lula também teve grande percepção, chegando a apontar alguns caminhos e sugestões. No final, acredito que a campanha de Dilma foi a que melhor utilizou as redes sociais", definiu.
Justiça não deve tentar controlar
O especialista em Marketing online, Marcelo Branco, criticou a Justiça Eleitoral em sua tentativa de regulamentar o uso das redes sociais no processo eleitoral. De acordo com o estudioso, a internet não pode ser encarada como um meio de comunicação massivo, como a TV e a internet, onde é preciso garantir o equilíbrio. "Não há como estipular um tempo de Twitter ou Facebook. A internet é como a rua, onde o político anda, sobe em um banquinho e fala o que quer", defendeu.
Marcelo se refere à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que estipulou para 6 de julho a data para início da campanha eleitoral, estabelecendo as redes sociais como local de campanha. "A propaganda eleitoral na internet pode ser realizada através de redes sociais, inclusive por iniciativa de qualquer pessoa natural", afirma o texto. Para ele, a decisão vai contra o direito de liberdade de expressão.
"Pedir voto antes do prazo já era proibido em qualquer meio", lembrou. "Mas o candidato tem o direito de emitir posicionamento, sim", defendeu. Ele ressaltou que a internet é um espaço de manifestação individual e não um veículo onde são necessárias concessões públicas, como rádio e TV. "Quando se tenta tirar esse direito se ataca a liberdade de expressão. Na internet a expressão é individual, por isso não há como se exigir equilíbrio".
O especialista acredita que a Justiça não deve tentar controlar o uso da internet, já que essa não é a sua função. "A cobertura jornalística, por exemplo, é livre. Ninguém diz o que cada jornalista deve falar, mesmo sabendo que há inclinações, imagine se poderão fazer com o eleitor multimídia", comparou. Para ele, o cidadão pode postar sua opinião sobre qualquer fato, antes ou depois do registro de candidaturas.
A ação da Justiça, nesse caso, deve haver com a garantia da punição. "Se ele fizer difamação, calúnia, deve estar sujeito à punição da Lei. Se houver calúnia ou difamação, os ofendidos podem recorrer", sugeriu. Um caso lembrado por ele aconteceu na campanha presidencial. "Houve um caso de direito de resposta na internet. O site do PSDB colocou algo a respeito da campanha. Os advogados de Dilma recorreram e ganharam o direito de resposta no site do Serra. É a internet", concluiu.
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